ALCATEIA LOBO GRIS

ALCATEIA LOBO GRIS

terça-feira, 19 de junho de 2012

O Povo Livre dos Lobos


O Povo Livre dos Lobos

Nas colinas de Seeonee, nas selvas da Índia, vivia uma alcateia de lobos a quem todos chamavam de 
Povo Livre.
Você sabe por quê? Porque a alcatéia tinha uma lei que todos respeitavam e cumpriam, o que tornava 
seus membros livres e diferentes de todos os outros animais. Akelá, um lobo cinzento grande e solitário,
era o líder da alcatéia. Era muito experiente, por isso guiava os lobos nas caçadas e os levava por 
caminhos seguros, protegendo-os contra os perigos. A alcatéia respeitava Akelá, e Akelá respeitava a lei.
 Ali perto, nas ruínas de uma cidade abandonada a que os animais da selva, com um certo desprezo, 
chamavam de “Tocas Frias”, viva o povo dos macacos, os Bandar-log.
Incomodar os outros habitantes da selva era seu passatempo predileto. Trepados nas copas das árvores,
gritavam, faziam algazarra e pulavam o dia inteiro.
- Que forma de passar a vida! – comentavam os animais.
- Muito própria de um povo sem lei – acrescentavam os lobos.
Ao entardecer de um dia quente de verão, estavam descansando o pai lobo, Raksha – a mãe loba – 
e seus quatro filhotes, quando chegou a sua gruta um menino que estava perdido e que andava 
fugindo de Shere Khan, o tigre manco, que queria comê-lo.

- Olha que coisa estranha! – disse a mãe loba.
- É um filhote de homem! – exclamou o pai lobo.
- Isso é um filhote de homem? – perguntou ela, que nunca tinha visto um.
- Traga-o, para que possamos vê-lo de perto – acrescentou.
Dentro da gruta, o menino se aproximou engatinhando de onde estavam os lobinhos, se acomodou 
entre eles buscando calor e, como estava muito cansando, acabou dormindo.
- Pobrezinho! – disse o pai lobo – não tem pêlos e é tão frágil que bastaria que eu o tocasse com a 
pata para matá-lo.
- Vamos acolhê-lo como se fosse um dos nossos filhos e o chamaremos de Mowgli, que significa “a rã” 
na língua da selva – sussurrou a mãe loba.
- Teremos que apresenta-lo na Roca do Conselho, junto com os demais filhotes – disse o pai lobo, 
depois de alguns minutos de silêncio.
Algum tempo depois, sob uma formosa lua cheia, a alcatéia se reuniu em torno da pedra onde se
 realizava o conselho. Shere Khan chegou até ali, em busca da presa, que, segundo ele, lhe 
haviam roubado. Akelá lhe deu a palavra, embora incomodado pelo tom arrogante com que 
o tigre pedia para ser escutado, pois a lei determinava que não se podia negar esse direito a ninguém.
- O filhote de homem que a mãe loba apresentou pertence a mim, exijo que me seja devolvido – 
 disse Shere Khan. - Shere Khan tem razão – disseram a uma só voz alguns dos lobos ali 
 reunidos – “a rã” só nos trará problemas.
Fez-se um silêncio tão grande na Roca do Conselho que foi possível ouvi-lo até nas Tocas Frias. 
Os sapos pararam de coaxar, as corujas de piar e os macacos de murmurar.
- Shere Khan falou – disse Ákela, e acrescentou – agora, como manda a lei que nosso povo respeita,
 dois membros do Povo Livre que não sejam seus pais têm o direito de falar em defesa do filhote 
de homem.
- Eu falarei em defesa do filhote do homem – rosnou Baloo, o urso pardo, levantando-se em suas 
patas – e digo em sua defesa que ele não pode nos fazer nenhum mal. Deixem-no correr em nossas 
pradarias e, assim como fiz com cada um de vocês, eu mesmo lhe ensinarei a lei.
- Quem fala agora? – perguntou Akelá – Baloo já falou, e ele é o mestre dos nossos filhotes. De novo 
reinou o silêncio.
- Akelá e demais integrantes do Povo Livre! – e se ouviu a voz de Bagheera, a pantera negra, que havia
deslizado respeitosamente até o círculo formado pelos lobos.
- Matar m filhote é uma vergonha – disse enquanto seu olhar astuto e alerta cruzava com os olhos 
sinistros de Shere Khan – Por outro lado, ele pode ser muito útil nas caçadas, quando for maior. Ao que 
disse Baloo, e de acordo com a lei, eu quero acrescentar a oferta de um touro que acabo de caçar, 
a pouca distância daqui. Estão de acordo?
Para os lobos famintos, era muito difícil recusar a oferta de Bagheera. Logo se aproximaram de Mowgli e 
começaram a fareja-lo, em sinal de aceitação.
E foi assim que Mowgli foi recebido pelo Povo Livre. Muitas aventuras aconteceram desde então e 
até o momento em que Mowgli, já um rapaz, retornou ao povo dos homens.

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